18.8.10

Peritos foram testemunhas do crime, diz Ilana Casoy


A escritora Ilana Casoy, que acompanhou da plateia o júri popular de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá - pai e madrasta da menina Isabella condenados pela morte da criança -, lança nesta terça-feira (17) A prova é a testemunha, livro sobre o julgamento do casal, ocorrido em março passado no fórum de Santana, na zona norte de São Paulo.


Em entrevista ao R7, ela disse acreditar que o caso abriu espaço para que o trabalho de provas periciais seja mais valorizado no país. Ilana afirma que, neste crime que comoveu o Brasil, a perícia foi a maior testemunha, pois Nardoni e Jatobá sempre negaram sua autoria.



Leia a seguir a entrevista com Ilana Casoy:



R7 - No livro, você aborda o assassinato da Isabella Nardoni. Sobre o que o livro trata?


Ilana Casoy - O livro traz o júri do começo ao fim. Cada capítulo é um dia de júri e traz, na íntegra, o que o Brasil inteiro queria ter assistido e não pode. É uma narrativa do julgamento, contada nas minhas palavras, exceto nas horas em que são frases literais das testemunhas no júri. Eventualmente em algum fato, em algum depoimento, eu comento. A gente que está aqui fora fica com muitas ideias na cabeça, muitas dúvidas, e o jurado não teve dúvida. Ele foi lá, votou e condenou. Independente da expectativa, da mídia ou do que quer que seja, hoje o meu leitor pode sentar na cadeira do jurado, ler o que se passou ali e chegar a uma conclusão.


R7 - Chegar a uma conclusão de forma imparcial?


Ilana Casoy - De forma imparcial.


R7 - O livro trata apenas do julgamento do casal Nardoni. Por que não há referência logo no título?


Ilana Casoy - O meu objetivo é contar um júri, a didática, o que acontece. Não é a vítima que faz a venda do livro. Eu não queria me utilizar de nomes ou sobrenomes em um caso onde eu estou expondo a verdade do que aconteceu, com riqueza de detalhes. Esperei ter um júri eficiente para contar. Não são todos os júris que dão pra fazer um bom livro. Então, a ideia aqui era contar o júri, fazer chegar a todo mundo, mas ele é sobre o meu trabalho. Foi um trabalho de dois anos em que eu acompanhei o andamento do caso. Não acho necessário ter referência de nomes.


R7 - Sua especialidade, tratada em livros anteriores, são assassinatos em série. Então por que falar do casal Nardoni?


Ilana Casoy - Tem também o caso de polícia da Suzane Richtofen [jovem condenada pelo assassinato dos pais], no livro O quinto mandamento, onde eu acompanhei o caso. Meu leitor é interessado em todos esses assuntos de investigação, de julgamento. É isso que eu tento traduzir para eles. É uma especialidade minha, profissional, onde eu colaboro, empresto e divido meu conhecimento com a polícia, com o Ministério Público, em casos muito complexos de crimes em série. Mas o meu leitor também quer saber como é uma investigação e, por isso, eu escrevi O quinto mandamento. Ele [o leitor] quer saber como é um júri e, por isso, eu escrevo A prova é a testemunha. Esse é um júri muito especial, onde havia uma negativa de autoria, mas há provas periciais muito importantes. Num momento em que a perícia está ganhando espaço, o júri não é mais tão argumentativo. Ele é em cima de provas. Esse era o caso ideal para contar. De fato, quem testemunhou o crime foi a prova.


R7 - Por isso o nome? A prova é a testemunha que faltava?


Ilana Casoy - Exatamente. Através da prova, se comprovou a autoria. Um trabalho difícil, mesmo com equipamentos, porque não é um trabalho que envolve apenas equipamentos, mas inteligência da polícia. É um trabalho que meu deu muita satisfação. Eu não sou uma escritora de denúncias, mas que conta com profundidade esses casos. Meus interesses são bons casos, onde possa ser apresentado um bom trabalho.


R7 - Qual é a importância das provas criminais em um caso como esse?


Ilana Casoy - 100%. Nesse caso foi crucial.


R7 - O caso Isabella Nardoni muda a visão brasileira em relação a provas periciais?


Ilana Casoy - Não só a visão brasileira, mas, principalmente, a visão do jurado, porque quando existem provas periciais, o jurado também vota com muito mais conforto. Ele não se sente pressionado e não tem que decidir no “achismo”. As provas estão lá expostas. Acho que se inicia hoje no mundo inteiro e, com esse caso, que eu acho um divisor de águas, a cultura de que nós também - público e jurado - começamos a ter uma exigência maior quanto às provas nos casos, sejam eles de repercussão ou não.


R7 - Levantamentos apontam que a perícia criminal no Brasil ainda é precária. Como você vê isso?


Ilana Casoy - É muito precária. Às vezes vejo com desespero, às vezes com tristeza. Em São Paulo, a gente está em um oásis. É bem equipado, aqui se valoriza muito esse investimento, e não mais só o investimento em viaturas ou coletes. Hoje, já existe uma preocupação crescente desse investimento na perícia. A mala da perícia paulista é impressionante. As testemunhas no caso [Nardoni] foram, em grande parte, os peritos. Acho que vai ser um grande exemplo para os outros Estados e para o público também valorizar o investimento. Já se começa a investir no que pode trazer provas e definir autorias.


R7 - Então São Paulo está muito à frente dos outros Estados?


Ilana Casoy - Está. Tem Estados, como Piauí, Sergipe, que vivem no abandono desse assunto. Nem tem, nem existem. Está precário porque o Brasil tem uma diversidade de tamanhos, Estados, investimentos.


R7 - O inquérito policial do caso envolvendo Eliza Samudio, a ex-amante do goleiro Bruno Fernandes, foi concluído com o depoimento de testemunhas e em cima do que a polícia chama de materialidade indireta. Como você vê o caso?


Ilana Casoy - Eu espero que os laudos sejam muito bons. Eles vão precisar. Eu não li, mas espero que todo esse caso seja apoiado em dados periciais muito bons, porque aí de novo a gente vai ter pela prova científica a autoria. Espero e desejo que as provas sejam conclusivas, assim como as do caso Isabella.


R7 - Como é vista a questão do serial killer no Brasil? Tem alguma lei específica para a condenação?


Ilana Casoy - Não tem. Eu li que o Romeu Tuma [senador] está se interessando em definir uma lei para isso. São crimes muito raros, muito extremos, e que não se deve, a partir deles, fazer uma legislação para toda a população. Eles são muito específicos. É melhor fazer uma lei só para eles do que usar esses crimes quando eles acontecem para fazer leis para todos os criminosos. Esse universo do crime em série é muito particular e muito pequeno.


R7 - O número de vítimas define se a pessoa é um serial killer?


Ilana Casoy - Define sim. Na literatura mundial, tem que ser no mínimo três vítimas, com intervalo de tempo entre esses crimes, que é o período onde o criminoso em série esfria entre um crime e outro. E tem algumas características de ritual, que são muito individuais. O motivo é psicológico, interno. É simbólico ou é uma gratificação sexual, mas de qualquer maneira é uma gratificação psicológica interna. Os doentes mentais são muito raros matar em série, porque eles não têm organização mental suficiente para esse tipo de crime. Para matar em série, você tem que ser minimamente organizado, porque se escapa da polícia e se evita ser identificado. Uma pessoa que é muito perturbada mentalmente, não consegue e logo é presa.


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